10.2.13

L'origine du monde de Courbet: uma polémica


L'origine du monde (1866) de Courbet reacendeu uma polémica. Jean-Jacques Fernier deparou-se com uma nova pintura de Courbet que, diz ele, é o rosto daquele torso.

Todavia, L'origine du monde, como, aliás, L'atelier du peintre (1854-55), é uma alegoria. Uma alegoria sem a mínima carga erótica. É apenas - e que apenas, daí o seu realismo (no sentido usual e no de uma corrente artística) notável - o sexo de um torso feminino. E, por isso mesmo, sem rosto. Aliás, se rosto tivesse, seria semelhante a La femme au perroquet (1866), que entronca na tradição do renascimento (a Vénus de Urbino, ca. 1538, de Ticiano, a Virgem adormecida, ca. 1510, de Giorgione), ou até, e talvez mais precisamente, a Femme nue couchée (1862).

É certo que o Musée d'Orsay já contrariou Fernier, dizendo, o que é a mais elementar verdade, que os contemporâneos de Courbet conheciam o quadro tal e qual está exposto neste museu, e de que é pertença. É ainda certo que já houve quem dissesse que a sintaxe do novo quadro, a tal cabeça complementar, nada tem a ver com L'origine du monde. Até onde irá a polémica?

Polémica à parte, L'origine du monde é da mesma altura da série Puits-Noirum local perto de Ornans e, como escreve Michael Fried em Courbet's realism (1992), dialogando com ela. E, já agora, não se esqueça o papel que a fotografia (de Gustave Le Gray e outros) teve na obra de Courbet.

Por isso, mais valia estar calado até que exames de raios-x, textura das cores e outros sejam feitos. Porque, verdade seja dita, L'origine du monde, a que conhecemos, é, entre outras obras, um começo da modernidade.