7.6.21

Nuno Júdice & Daniel Jonas: words, words, words...

Deixei de ler a poesia de Nuno Júdice depois dos poemas de Cartografia de emoções (2002). Porquê? Tratava-se de repetir o já dito - algo muito comum na poesia portuguesa e que se vê a olho nu nas recolhas do ano tal até ao ano tal ou nas obras incompletas, inacabadas ou o diabo que as carregue. Por isso, foi a medo que comprei Regresso a um cenário campestre (2020), que de cenário campestre tem o último poema. O resto é a erótica, vinda do renascimento e sem soluções inovadoras, em torno da mulher amada e a questão sobre o tempo: « (...) como se o tempo / não mudasse o mundo e a própria forma / como o vemos» (p. 57) - verdadeiro achado de La Palisse. Apesar de tudo, dois poemas chamaram-me a atenção: os das pp. 56 e 86. E fugi de "coisas" (4 ou 5) como O problema da justiça  (p. 78).

 

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Daniel Jonas leu o poema Dispersão do livro homónimo de Mário de Sá-Carneiro, que começa assim: «Perdi-me dentro de mim / Porque eu era labirinto, / E hoje, quando me sinto, / É com saudades de mim». E estoutro de Indícios de ouro: «Eu não sou eu nem o outro, / Sou qualquer coisa de intermédio: / Pilar da ponte do tédio / Que vai de mim para o Outro». E, ecoando Maia-Pinto (por exemplo, p. 37), Sena (p. 91 sg.), a poesia inglesa, constrói Cães de chuva (2021). Onde diz: « (...) Um poema é / o fim depois do fim / após a morte, antes da terra.» (p. 36) - que é um des-ocultar a origem das origens. Mas, depois: « (...) Alguém terá vivido a minha ausência. (...) dum mundo onde não vivo (...)» (p. 98). Mas, antes, p. 37: «É triste sermos nós até para nós». Ou: «É tudo triste em vez de ser só ser». Então, onde ficamos? Na origem das origens - onde se desvela o ser? Diante de um mundo onde (o eu, o sujeito) não vive, isto é, não é diante da morte, mas é na morte, o que é triste? Eis a re-visitação do pessoano fingimento. Words, words, words...