Com o fim da guerra fria, que foi a queda do muro de Berlim em 1989, começou o século XXI, como já o escrevi algures - tal como o século XX começou em 1914, início da primeira guerra mundial (no que estou acompanhado por Vitorino Nemésio, na sua tese de doutoramento sobra a mocidade de Herculano, de 1933, ou por Alain Badiou, por exemplo). E com a queda do muro de Berlim começou-se a pensar a "Europa", que, aliás, em plena guerra fria Jean Monet tinha pensado.
Em contrapartida, o século XVIII, pela voz de Kant, tinha dito uma coisa simples: só a força das armas implica a paz. Foi, aliás, a força das armas que traçou a "Europa" reinante e as suas colónias até 1918, fim da primeira guerra mundial.
Todavia, o fim da guerra fria implicava forçosamente o renascimento dos vários nacionalismos europeus, com as suas lutas tribais. E, além disso, para lá da "Europa", a potência unipolar emergente, os EUA, ao quererem, pretensamente, impôr o modelo democrático a regimes ditatoriais, muitos alicerçados na religião, armando aliados de ocasião que se tornariam a breve trecho inimigos (o que já vinha dos idos da guerra fria), abriu a porta a fenómenos como o islamismo extremista.
Não fora isto, um além Europa a reconstruir um novo mapa geopolítico, a "Europa" pretensamente unida, também a reconstruir um novo mapa geopolítico, rebentou com o modelo de democracia representativa nos países da periferia - caso de Portugal, hipotecado desde oitocentos, e sonhando, por vezes, com a união ibérica, a ponto de algumas luminárias pensarem, até, invadir a Espanha, como conta Oliveira Martins no Portugal contemporâneo (1881).
Entretanto, renascida das cinzas do holocausto, a Alemanha tornou-se o fiel da balança na "Europa", isto é, uma vez reunificada, considerou-se o mentor "europeu". Conseguiu-o? E os EUA, conseguiram ser o mentor mundial?