Para o romantismo, a paisagem evoca estados de alma (a chuva é a metáfora das lágrimas, o vento a metáfora do desencanto e/ou do desespero, o cipreste a metáfora da morte, etc.). A este antropomorfismo não é alheio o conceito de sublime na terceira crítica de Kant.
Caminhante sobre o mar de névoa (1818), de Friedrich, até pelo próprio título (por um lado, o sintagma caminhante ou viajante, como depois no Zaratustra de Nietzsche, o caminhante ou o viajante como mago romântico, como profeta romântico, por outro lado o sintagma mar de névoa enquanto espelho baço, espelho da solidão, espelho abissal onde o eu é absorvido), é um exemplo entre muitos.
Curiosamente, a resposta, se é que a há, se é que não é uma nova questão, do realismo de Courbet é esta:
Le bord de mer à Palavas (1854) é a exaltação da paisagem, e não a sua contemplação, é a exaltação da natureza. Aliás, Courbet, no caso de A vaga (1869),
usa eventualmente a fotografia - neste caso uma fotografia de Gustave Le Gray,
A grande vaga, Sète (1857).
Ora, o uso da fotografia por Courbet, em alguns dos seus trabalhos, é outro ponto de afastamento em relação ao romantismo.
O final de oitocentos, aquando das várias exposições universais, assiste a um outro fenómeno: os panoramas.
Mas, neste caso, o tema tanto pode ser a paisagem como a vida urbana, cenas de batalhas, etc. O que os panoramas fazem, todavia, é colocar o espectador no centro da obra. Dan Graham, por volta de 1980, há-de desconstruir este paradigma.
O que Dan Graham faz é, pois, o contrário dos panoramas. A obra de arte não tem um centro, não tem um interior. A obra de arte é um interior/exterior onde o papel do espectador é observar/ser observado. Por outras palavras: a obra de arte, neste caso a instalação, tem não só uma força centrífuga como uma força centrípeta.
Entretanto, por altura dos panoramas, e indo marcar todas as vanguardas artísticas, a par de van Gogh e Gauguin, surge Cézanne, onde a paisagem é pura abstracção. Aliás, já o impressionismo, com o seu lema «d'après nature», em particular Monet, caso das séries dos nenúfares e das medas de feno, tinha ensaiado a abstracção, fundamentalmente ao nível cromático.
Trata-se de uma paisagem ou da exploração da cor, melhor, da exploração da mancha? É esta a questão que levanta Mont Sainte-Victoire (1902-1906) e outras obras de Cézanne. E a resposta, como é evidente, é a segunda hipótese.
Com as vanguardas artísticas de inícios de 1900, a paisagem deixa de ter lugar nas artes visuais. A ponto de Mondrian, que começou justamente por trabalhar a paisagem, no período da abstracção recusar o verde... Contudo, na fase intermédia entre a paisagem e a abstracção, há um diálogo que se pode estabelecer entre as paisagens de Mondrian e as paisagens doutro homem das vanguardas: Amadeo de Souza-Cardoso.
E, antes do regresso à paisagem de Dan Graham e outros, há nos anos 1960, com Richard Long, um dos nomes da land art, um regresso aparente à paisagem.
Todavia, A Line Made by Walking (1967) nada tem a ver com a paisagem. É, pelo contrário, como depois em Alberto Carneiro, a apropriação da paisagem como objecto cultural marcado pelo corpo.