3.11.25

A voz de Eco


A filosofia de Levinas foi sempre um caminhar ao encontro do Outro. No caso desta antologia de Luís Quintais, uma antologia de três décadas, logo num primeiro texto, aliás um texto em prosa, é referido o papel do eco. Podia ser, partindo do título, A destruição do tempo (Assírio & Alvim, 2025), o papel da imagem reflectida nalgum espelho ocasional, caso de uma réstea de água - mas não, não há aqui Narciso algum, apenas a sua sombra por castigo de uma ninfa, a ninfa das montanhas. Há, sim, um eco - apenas uma voz, como aconteceu à ninfa grega das montanhas com este nome, Eco. Melhor: há o eco - a voz de Eco. Daí, a destruição do tempo que os poemas evocam constantemente, em vez de os fixar enquanto destroços, fixá-los enquanto um eco tecido pelas palavras do próprio poema e, também, de poema para poema. O que, enigmaticamente, faz os poemas derivarem de si para o Outro, aquele que segundo Levinas nos justifica e absolve. Neste caso o poema.