24.7.16

Algumas notas sobre o terror(ismo), hoje

1. Nice, Munique. Num como no outro caso logo se ligou o terror ao Daesh, ao autoproclamado Estado Islâmico (EI). Todavia, o que se veio a descobrir foi que se tratava de "lobos solitários" com códigos de conduta próprios e individuais. Porém, a forma como a comunicação social tratou estes casos ampliou o terror e, num primeiro momento, deturpou os factos (no caso de Nice, o próprio poder político francês foi cúmplice dessa deturpação). O EI agradece.

2. O que une estes dois "lobos solitários"? Algo confuso, nebuloso, em torno de uma ideologia da extrema-direita, ou com ecos disso, xenófoba, nacionalista, em busca de auto-afirmação mimética. Algo que apela a ser visto, isto é, que apela à mediatização (e as cadeias de televisão servem o prato a quente). Algo como a candidatura de Trump made in USA - só que suicidária, nestes dois casos, como, aliás, nos casos made in USA, onde o racismo vem cada vez mais à tona.

3. O que não é novidade desde finais do século XIX e princípios do século XX. Aí, todavia, havia marcas ideológicas evidentes. Agora, o confuso, o nebuloso são apenas um indicador de um eu perdido na multidão, (auto-)rejeitado, de um eu desagregado e desagregador, de um eu sacrificial - um eu à procura do próprio eu, finalmente da sua auto-justificação, uma auto-justificação mimética assumida. O que é totalmente diverso da estratégia do EI. Neste, a estratégia é global, narcótica. Nos outros, local, narcísica. O terror, contudo, é o denominador comum.