5.9.13

Golpes de estado, não

Desculpem lá o lugar comum: já não há paciência para ouvir os políticos, sejam do governo ou da oposição - e, aqui, incluo também comentadores, "analistas" e quejandos. Quando se devia debater ideias, somos confrontados com retórica e demagogia (neoliberal, comunista). Eu sei que, hoje em dia, a polis é aparentemente a "Europa". Mas, de facto, já não há polis alguma, é esse o drama da "Europa". Uma "Europa" sem projeto algum, refém dos países que ainda não se endividaram até ao ponto de não retorno. Eu sei que, para a "Europa", Grécia, Portugal e mais uns quantos "países" residuais não contam - servem apenas para que a "Europa", caso da Alemanha por exemplo, tenha mais lucros em função dos empréstimos, a tão famigerada emergência "nacional" de que o "governo" e os "analistas" "nacionais" tanto gostam de falar. Ficámos ou saímos do euro? Destruímos ou não destruímos o estado social? Destruímos ou não destruímos o serviço nacional de saúde? Destruímos ou não destruímos a escola pública? Sofremos todos (repito: todos) ou não sofremos todos (repito: todos) a austeridade? Somos todos solidários (no sentido de criar igualdade de oportunidades, de debelar injustiças flagrantes) ou não somos todos solidários? Esta é para mim, na esteira da social-democracia, do socialismo democrático, da democracia-cristã, a fronteira que se deve ter presente: a fronteira entre o sim e o não. Esta é a fronteira que a constituição do país estabelece. Suspendê-la é ilegítimo e ilegal. Que o ilegítimo está a ser posto em prática, sei-o, sabemo-lo todos (rasgam-se contratos com os mais indefesos). E o ilegal? Os neoliberais querem-no: governar para além da constituição. Que o inscrevam, então, num programa político e que vão a votos. Honrando a palavra dada - caso único na democracia do passado recente. Golpes de estado, caso da suspensão da constituição, não.