3.11.15

1. Da pintura de história ao realismo



La Mort de Sardanapale (1827), de Delacroix, é um dos exemplos maiores da pintura de história - com o orientalismo próprio do romantismo. Todavia, ao ver esta obra, logo outra, anterior, ecoa: Le Radeau de la Méduse (1819), de Géricault. Aliás, a morte, o desastre, o desespero espreitam numa e noutra das obras. Ou nesta: Le 28 Juillet: La liberté guidant le peuple (1831), também de Delacroix. É claro que no neo-classicismo a pintura de história é mais acentuada, caso de Le Sacre ou le Couronnement (1806-1807), de David. Todavia, há uma outra pintura de David que troca um pouco as voltas: La Mort de Marat (1793), pertença de Musées royaux des Beaux-Arts de Belgique. De facto, a multiplicidade de figuras na pintura de história, donde vem, aliás, a tensão, o conflito, dá lugar, aqui, a uma única figura: Marat, onde se concentra toda a tensão, todo o conflito (o corpo inclinado, um braço pendente com a pena de escrever, uma mão segurando uma carta, a oposição entre os tecidos, os vários brancos e o verde).


Por isso, é curioso aproximar duas obras: La Mort de Marat de David e La Liberté guidant le peuple de Delacroix. Ambas falam, à sua maneira, do heroismo, de um heroismo trágico.

Quem vai fazer eclodir a pintura de história é Courbet, o realismo de Courbet. E a obra radical é esta.



L'origine du monde (1866), um torso feminino, é a ruptura que o realismo de Courbet faz com neo-classicismo e romantismo, abrindo a Manet, ao modernismo de Manet. Esta é, portanto, a obra radical de oitocentos. Duas outras obras de Courbet há, todavia, que evidenciam a ruptura com a pintura de história. Uma é Un enterrement à Ornans, 1849-1850. A outra é L'atelier du peintre, 1854-1855. Numa, há um enterro com camponeses. Na outra, o conjunto tela, pintor, mulher, criança, tecido branco, cão branco divide a tela: de um lado, o esquerdo, figuras do campo; do outro, o direito, figuras da cidade, intelectuais - com Baudelaire em primeiro plano, a ler. Para trás ficam as figuras históricas. Agora, tudo é quotidiano. Como escreve, aliás, Baudelaire em Le peintre de la vie moderne...