4.11.15

2. Da paisagem à abstracção

A série Puits noir de Courbet, de que Le ruisseau noir (1865)



é um exemplo, inicia a transição da paisagem para a abstracção. A série dos nenúfares


de Monet também o faz - como a série das medas de feno ou da catedral de Rouen, também de Monet. Mas, pergunta-se: a paisagem não continua em Courbet e em Monet a ser paisagem? Em Courbet, por exemplo: não há um diálogo, em Le ruisseau noir, entre a água e o céu, sendo as árvores e as rochas o enquadramento que leva à negrura da gruta? Em Monet, por exemplo: não vive a série dos nenúfares, a das medas de feno, a da catedral de Rouen da luz, no lógica interna do impressionismo? A resposta à pergunta, tal como foi formulada, é um sim. Todavia, um sim com reservas. Comparem-se as obras referidas de Courbet e de Monet com este Cézanne,


o Cézanne de Mont Sainte-Victoire (1902-1906) - sobre o qual há um belo livro de Peter Handke. Paisagem ou abstracção? Como em Courbet, em Monet, mas ainda mais em Cézanne, eu diria a caminho da abstracção. Não se esqueça, aliás, que se Cézanne abriu à abstracção (compare-se as três pinturas intituladas Les grandes baigneuses de Cézanne com Les Demoiselles d'Avignon de Picasso, uma obra radical que abre ao cubismo, apesar de, diz-se, Picasso a achar inacabada), van Gogh abriu à expressão e Gauguin à cor. Eis o(s) movimento(s) nas artes visuais.