Jules-Bastien Lepage (França, 1848-1884), The Metropolitan Museum of Art, New York.
Esta é uma daquelas obras de artes visuais que consegue transmitir cabalmente um olhar deveras alucinado e, ao mesmo tempo, deveras apavorado - o que um dos braços, abandonado ao longo do corpo, sublinha. Simultaneamente, como que prolongando o olhar, a disposição da cabeça continua também no braço estendido com a mão ensaiando um gesto de dádiva - que enquanto dádiva é, também, um gesto de ternura que algo na mão (um fruto? uma flor?) indica. Como se dissesse: - "Este é o meu corpo. Tomai-o". Todavia, as árvores, em particular a que lhe está imediatamente atrás, toda retorcida (dois ramos acompanham o movimento do braço e o tronco o movimento do corpo), ou as figuras do lado esquerdo, ao fundo, uma eventual figura de Jeanne d'Arc (que viveu na primeira metade do século XIV) enquanto guerreira, e outras figuras com laivos celestes, alegoria da ascensão de Jeanne, compõem o retrato da figura em primeiro plano. Uma nota final. A oposição passivo/activo percorre a obra de um pintor contemporâneo de Lepage: Courbet, da escola do realismo, de que é o pintor primeiro. Por outro lado, Lepage ainda tem reminiscências bem visíveis do romantismo: todo o fundo da tela, naquilo já referido e no mais que há, caso do tema subjacente do abandono, isto é, entregar-se ao poder dos homens para subir ao encontro do poder da divindade (descer à terra/subir aos céus é uma oposição que se acentua no romantismo).