22.8.25

Jeanne d'Arc (1879)


Jules-Bastien Lepage (França, 1848-1884), The Metropolitan Museum of Art, New York.


Esta é uma daquelas obras de artes visuais que consegue transmitir cabalmente um olhar deveras alucinado e, ao mesmo tempo, deveras apavorado - o que um dos braços, abandonado ao longo do corpo, sublinha. Simultaneamente, como que prolongando o olhar, a disposição da cabeça continua também no braço estendido com a mão ensaiando um gesto de dádiva - que enquanto dádiva é, também, um gesto de ternura que algo na mão (um fruto? uma flor?) indica. Como se dissesse: - "Este é o meu corpo. Tomai-o". Todavia, as árvores, em particular a que lhe está imediatamente atrás, toda retorcida (dois ramos acompanham o movimento do braço e o tronco o movimento do corpo), ou as figuras do lado esquerdo, ao fundo, uma eventual figura de Jeanne d'Arc (que viveu na primeira metade do século XIV) enquanto guerreira, e outras figuras com laivos celestes, alegoria da ascensão de Jeanne, compõem o retrato da figura em primeiro plano. Uma nota final. A oposição passivo/activo percorre a obra de um pintor contemporâneo de Lepage: Courbet, da escola do realismo, de que é o pintor primeiro. Por outro lado, Lepage ainda tem reminiscências bem visíveis do romantismo: todo o fundo da tela, naquilo já referido e no mais que há, caso do tema subjacente do abandono, isto é, entregar-se ao poder dos homens para subir ao encontro do poder da divindade (descer à terra/subir aos céus é uma oposição que se acentua no romantismo).


15.8.25

Pã perseguindo Siringe


Hendrick van Balen, o Velho e um seguidor de Jan Brueghel, o Velho, c. 1615, National Gallery, Londres.

Pã (Pan aproxima-se mais do original grego) persegue Siringe (o mesmo para Syrinx) que, fugindo, é metamorfoseada ao entrar num canavial - uma dessas canas vai ser a flauta de Pã. Cf. Ovídio, Metamorfoses, trad. Paulo Farmhouse Alberto, Livros Cotovia, Lisboa, 2007, I, 691-705.

Nan Goldin, Young love, 2024


 

Nan Goldin, Stendhal syndrome, in Arles, Les rencontres de la photographie.

10.1.25

A diligência na neve

 


A diligência na neve (1860, National Gallery) remete para a pintura de paisagem de Courbet - e não para a desconstrução que opera da pintura de história 






(caso, por exemplo, de Un enterrement à Ornans (1849-1850) ou de L'atelier du peintre (1854-1855), ambos do Musée d'Orsay). 

Entre a convulsão das nuvens, patente nas cambiantes de negro do céu, em particular no canto superior direito, uma negrura de tempestade, e a convulsão da neve, de um branco sujo e por vezes acinzentado, a diligência tenta abrir caminho para entregar sabe-se lá o quê. Mas que é de uma entrega que se trata, não há a mínima dúvida. Por exemplo: entregar(-se) ao espectador...